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Em português (finalemente)... o que é que acharam do filme?


Eu pessoalmente gostei muito, apesar de achar que há ali um momento em que as cenas se repetem: a personagem do Nuno Lopes anda de um lado para o outro, no meio da chuva, com uma música lamechas... ok, é esse mesmo o objectivo, mostrar a cidade de Lisboa como ela é na hora de ponta (lol), mas torna-se repetitivo, monótono...

Não interessa. É um filme e pêras.

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[deleted]

O filme é fabuloso. Adorei a interpretação dos actores, sobretudo do Nuno Lopes e da Beatriz Batarda (que transmitem um sofrimento enorme sem precisarem de falar), a música do Bernardo Sasseti, que encaixa na história na perfeição, a imagem de uma Lisboa triste e sombria. O fim é inesperado e muito revoltante, dei por mim a sofrer com a história nos dias a seguir a ter visto o filme. É um dos melhores filmes que já vi, e não o comparo só com os portugueses.

ALICE é grande!

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A monotonia das imagens e situações é relevante para o enredo.

É sem dúvida um dos melhores filmes portugueses que já vi. Muito desesperado, bastante angustiante, mas muito bem escrito e realizado, e razoavelmente interpretado. 7/10.




This... is chemical burn.

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[deleted]

... o que deve demorar uns anos... Porque é que os filmes bons são sempre difícies de encontrar em DVD enquanto os filme de acção mais popcorn possíveis e comédias adolescentes ou romãnticas estão sempre em grande destaque nas lojas? Porque o que as pessoas querem não é filmes de qualidade, mas sim explosões, casos amorosos, as peripécias nada clishés de um grupo de adolescentes qualquer de férias e maus actores fazerem figuras de idiotas.

O que se passa com o público português (e não só, porque isto acontesse em todos os países)? Porque é que as pessoas abdicaram dos filmes de qualidade e que nos fazem pensar pelos filmes de acção de sábado á tarde? Porque é que não se dá importãncia a uma boa realização ou interpretação se não tiver cheia de piadas estúpidas e explosões de carros e gente a morrer com as tripas de fora?

O que o público quer é divertir-se, e estão dispostos a pagar 5 euros por isso; e quem perde sao os filmes bons, que acabam por perder dinheiro nas bilhiteiras e, é claro, os estúdios já não investem neles.

Será que acabaremos com o cinema reduzido a comédias idiotas e filmes de acção?

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A resposta a todas as suas perguntas é só uma:

Porque as pessoas não gostam de pensar muito.

Mas não digo isto de forma depreciativa, a verdade é que as pessoas têm as suas vidas, e quando chegam ao fim do dia querem ver o "Notting Hill" e ler a Margarida Rebelo Pinto, não têm propriamente paciência para ver um filme do Fellini ou ler António Lobo Antunes.

A verdade é que as pessoas preferem o cinema de "pipoca" (especialmente Hollywood) porque este tipo de filmes é sempre mais ou menos igual e formalizado, e raramente foge a regras e estruturas pré-concebidas, o que faz com que seja facilmente assimilado. Neste âmbito, há quem fale em "ilusão do entretenimento": as pessoas vêem um filme e, como tudo lhes parece normal e como tudo "encaixa bem" (enredos bem explicados sem ser necessário reflectir), ficam com a sensação que viram um bom filme e vão para casa contentes. Não quero parecer arrogante com esta explicação, mas é de facto o que parece acontecer muitas vezes, e há ensaios sociológicos que denunciam esta situação (Neil Gabler).

Tendo dito isto, não tenho nada contra cinema comercial, eu próprio sou consumidor do mesmo, mas acho que há muito mais para além daquilo que Hollywood produz de forma repetitiva - o cinema é repetitivo porque este tipo de filmes comerciais são quase sempre uma aposta ganha em termos financeiros, e a verdade é que Hollywood é uma indústria, não é um Ministério da Cultura nem uma Calouste Gulbenkian. O objectivo é declaradamente fazer dinheiro, e esse objectivo também é legítimo.

A prova de tudo isto é que o cinema "mainstream" americano está a tornar-se enfadonho e repetitivo, optando cada vez mais por reciclar clássicos (Rambo, Indiana Jones, etc) ou fazendo remakes de filmes estrangeiros - isto enquanto que no resto do mundo, especialmente na Europa e na Ásia, todos os dias aparecem filmes inovadores, com ideias originais, o que prova que o cinema está vivo e de boa saúde.

(Aliás, há que apontar que existe actualmente um conjunto de realizadores americanos que fazem cinema independente de grande qualidade, por isso também não podemos dizer que os EUA são só Hollywood.)


This... is chemical burn.

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Este filme não tem muito que pensar. Se dissesses "as pessoas não gostam de sentir muito" eu concordava. O filme é sobre um tema difícil e doloroso, sobretudo para uma mãe. A minha não quis ir ver exactamente com medo de enfrentar o tipo de sentimentos que o filme propõe.

Muitos dos filmes popcorn que referiste exigem mais inteligência do que este por muito superficiais que sejam. É ao nível das emoções que o "Alice" é dificil.

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"Este filme não tem muito que pensar."
"Muitos dos filmes popcorn que referiste exigem mais inteligência do que este por muito superficiais que sejam."

Bem, não digo que o "Alice" seja um filme altamente filosófico, não é nenhum "2001 Odisseia no Espaço", mas tem alguns aspectos interessantes que podem ser compreendidos de forma intelectual, não me parece que seja tudo assim tanto para "sentir". Há um comentário social vincado.

Há vários pormenores mais ou menos subtis na estrutura formal que só podem ser assimilados reflectindo um pouco. Por exemplo, qual é a relação dos vários excertos da peça de teatro que o personagem interpreta com a situação vivida pelo próprio ao longo do filme? Por que razão os personagens comem "fast food" enquanto falam da sua filha desaparecida? Porque é que o funcionário do aeroporto faz os comentários que faz sobre as "cenas" que consegue filmar com as câmaras do aeroporto? Etc, etc.

Nada disto me parece aleatório nem me parece que possa ser assimilado apenas através dos sentimentos. São aspectos nitidamente introduzidos no filme para serem assimilados intelectualmente, e é por isso que eu disse que o filme só se torna interessante se houver reflexão por parte do espectador. Se olharmos para "Alice" como olhamos para um "blockbuster" tipo "Missão Impossível III", é uma valente "seca" e mais vale estar quieto. Além disso tenho de discordar contigo: o "Indiana Jonas" ou o "Rambo" não requerem muita inteligência... basicamente tudo o que aparece no ecrã é explicado, e tem poucas ou nenhumas implicações filosóficas, morais, sociais ou políticas, e as que tem, são pouco relevantes. Não é o caso de filmes como "Alice". Não me interpretes mal, eu também gosto de filmes de "pipoca", mas são coisas bastante distintas.

Também concordo que há bastante para "sentir", há algums cenas até bastante expressionistas, bastante angustiantes, mas não me parece que isso seja mais importante do que "reflectir" sobre as ideias relativas à organização social moderna. Caso contrário, seria apenas um filme sobre um pai à procura de uma filha desaparecida, igual a qualquer telefilme "série B" daqueles que a TVI passava há uns anos. Parece-me mais do que isso, até porque em termos "emocionais", alguns desses telefilmes são provavelmente mais fortes do que este.



The void is a mirror.

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Concordo, dizer que "o filme não tem muito que pensar" foi uma escolha de palavras infeliz, embora não me arrependa, pois provocou esta tua resposta que é provavelmente o melhor comentário ao filme aqui publicado, por não se limitar a elencar elogios.

O que eu queria dizer era que acho o filme difícil mais pelo lado dos sentimentos que pelo das ideias, e mantenho, mas repito a minha escolha de palavras foi infeliz.

Reafirmo o meu desejo de que o M.M. continue a fazer filmes porque precisamos de cineastas como aquele em que ele se pode vir a tornar, fez uma estreia de qualidade e consistência invulgares em Portugal, (num ano que nesse aspecto foi invulgar porque penso exactamente o mesmo do Coisa Ruim, embora seja um filme muito diferente e com propósitos diferentes e felizmente, porque estamos a ganhar em diversidade, e se calhar os dois filmes até têm muito mais em comum do que aparentam à primeira vista), e o que eu espero é que daqui a uns anos ele tenha feito filmes que me dêem razão na minha opinião de que se este filme é interessante e promissor , o melhor ainda está para vir.
Os meus comentários neste fórum não foram nunca contra o filme mas contra uma certa euforia e uso de superlativos que eu acho contra-producentes e que acabam por ter um efeito preverso.

Obrigado pela resposta, peço desculpa pelas frases compridas, um 2007 feliz para todos.

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"contra uma certa euforia e uso de superlativos que eu acho contra-producentes e que acabam por ter um efeito preverso."

Acho que sei bem o que queres dizer

Bom 2007!




The void is a mirror.

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"...o "Indiana Jonas" ou o "Rambo" não requerem muita inteligência... basicamente tudo o que aparece no ecrã é explicado, e tem poucas ou nenhumas implicações filosóficas, morais, sociais ou políticas, e as que tem, são pouco relevantes."

Quer dizer, qualquer filme pode ser interessante e pode implicar o uso da nossa massa cinzenta. No caso do Rambo penso que até tem algumas implicações sociais e políticas. Quer dizer, temos um herói de guerra com stress pós traumático que é mal recebido por uma sociedade que julga as pessoas pela aparência, o caso do polícia que parte do pressuposto que o rambo é um pedinte e não o quer na sua cidadezita retrógada. Temos um retrato duma mentalidade interior, que faz juizos de valor a toda a largura sem tentar ver o outro lado e sem tentar compreender...no fundo um tipo de mentalidade que está enraizada na cultura americana e que mete há 2 mandatos o Bush no poder. Temos o rambo que sofre dos horrores da guerra e vive a angústia de sentir-se um misfit no seu país e que na guerra sentia-se melhor, que vai no sentido da compreensão da forma como se sente a guerra e as realidades mais cruéis, como nos adaptamos de tal forma a realidades diferentes que depois nos sentimos inadaptados quando voltamos ao ponto de partida. Vemos isso todos os dias com comunidades de imigrantes e emigrantes. Temos também uma situação muito delicada para a sociedade americana, ainda cheia de cicatrizes da guerra do Vietname, com muitos casos de génese semlhante ao de rambo...Sinceramente não me parecem implicações relevantes, mas é só a minha opinião, claro...
Acho que se pode pensar sobre muita coisa, agora certos filmes levam mais o espectador a pensar e outros necessitam da motivação e inspiração de quem vê. É o que penso, ou sinto... Mas pronto, aqui era para falar de Alice, que admito ainda não ter visto, mas estou bastante ansioso pelo momento de o poder ver, ansiedade essa que os comentários aqui do pessoal também ajudaram :-) Antes de sair só mais uma coisa, sempre que temos um filme bom em portugal é drama, raras são as comédias ou filmes de outros géneros com qualidade. Faz-me ter alguma pena. Reflexo de uma país deprimido e talvez de artistas que sentem um certo complexo pelo trabalho considerado menos sério de fazer rir. Não sei, gostava de ouvir opiniões. Espero não ter chateado muito......

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"No caso do Rambo penso que até tem algumas implicações sociais e políticas."

Como eu disse, são pouco relevantes. Sim, o primeiro filme ("First Blood") tem comentário social, os outros dois têm comentário político. Mas será que alguém realmente considera isso ao ver um filme do Rambo? Será que isso é sequer significativo em algum desses filmes, que são, e sem querer de alguma forma desfazer (porque até os acho bastante divertidos) basicamente entretenimento? Convenhamos, ninguém sai do cinema depois de ver um filme como o "First Blood" a reflectir ou a conversar sobre as condições de vida dos ex-soldados com stress pós-traumático... tal como ninguém sai do cinema depois de ver o Rambo III a reflectir sobre o conflito Soviético-Afegão.

Se me falares no Apocalypse Now, no Platoon, no Nascido a 4 de Julho ou até no Resgate do Soldado Ryan, aí sim, temos uma reflexão sobre a guerra e os seus horrores, durante e depois de um conflito. Mas a trilogia Rambo é basicamente acção e entretenimento - o objectivo é mostrar as "aventuras" do John Rambo e cenas de acção/guerra, que são tantas que não me parece que haja espaço para qualquer reflexão (mais uma vez, digo isto sem querer desfazer, acho que há lugar para todos os tipos de filme), ou seja, o "sub-texto" não é relevante.

O que não é o caso de Alice. Alice é um filme calmo, vagaroso, que dá muito espaço à reflexão sobre a actualidade social e sobre o lugar do indivíduo no mundo urbano contemporâneo. Não é um filme brilhante nem sequer inovador, mas tem boas ideias e é certamente do melhor que já vi feito em Portugal.

Quanto à comédia, tens razão, há pouco ou nenhum bom cinema de comédia Português. Mas a verdade é que a comédia é um género bastante mais difícil do que o drama - mesmo em termos internacionais, na minha opinião, são muito menos as grandes comédias do que os grandes dramas. Mas não me parece que sejamos um país assim tão deprimido... mas tens razão no que dizes quanto à comédia ser considerada menos séria. Há dois cineastas (já desaparecidos) que gosto especialmente no que toca à comédia:

- O Chaplin, que fez tantas excelentes comédias que são obras-primas do cinema, especialmente O Grande Ditador e Tempos Modernos.

- O Kubrick, cujos filmes como Laranja Mecânica e Dr. EstranhoAmor são fantásticas comédias com uma sátira social muito vincada e relevante. São filmes fabulosos e hilariantes, com um humor mesmo muito inteligente (por exemplo, o Laranja Mecânica é dos filmes com que mais me ri, e muita gente ainda hoje pensa que se trata de um filme de "violência").

Tendo dito isto, também devo referir que a comédia não é o meu género favorito (como o Tarkovsky dizia, a arte apenas existe porque o mundo não é perfeito). Apenas gosto de filmes de comédia que tenham um objectivo para além do simples fazer rir (como os exemplos que citei acima). Não quero ser snob, mas as comédias românticas estilo Hugh Grant não me dizem nada... mas têm certamente o seu valor e o seu público. Se um filme dá alegria e ânimo às pessoas, então óptimo.

Pessoalmente ainda tenho uma tendência - parace que antiquada - de encarar o cinema como criação artística e não como mero entretenimento, tanto que muitos dos filmes que considero os melhores de sempre são tudo menos "entretenimento".

Abraço tuga!

PS: Já agora, dois bons filmes tugas que recomendo a todos: Os Imortais, do António-Pedro Vasconcelos, e O Delfim, do Fernando Lopes (salvo erro) - ambos muito bons mesmo, recomendados a todos os que pensam que no nosso país só se faz filmes género Manoel de Oliveira e César Monteiro.



Last film watched:
Invincible by Werner Herzog - 6/10

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Subscrevo inteiramente.

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